'Ninguém incentiva o aluno a estudar'
DIÁRIO - Qual a opinião do senhor sobre o novo Enem?
PIERLUIGI PIAZZI - Há uma diferença gigantesca entre exame e concurso. A função do exame é medir o grau de conhecimento do examinando. A função do concurso é discriminar candidatos, selecionar. Até o ano passado o que era o Enem? Um exame. Agora, transformaram-no em concurso. Ele decide se alguém consegue vaga em faculdade de medicina. O que vai acontecer, vão ter faculdades federais de medicina que terão 40 vagas e 300 candidatos que atingiram a nota máxima. E agora?
PIERLUIGI PIAZZI - Há uma diferença gigantesca entre exame e concurso. A função do exame é medir o grau de conhecimento do examinando. A função do concurso é discriminar candidatos, selecionar. Até o ano passado o que era o Enem? Um exame. Agora, transformaram-no em concurso. Ele decide se alguém consegue vaga em faculdade de medicina. O que vai acontecer, vão ter faculdades federais de medicina que terão 40 vagas e 300 candidatos que atingiram a nota máxima. E agora?
DIÁRIO - E quanto ao vazamento da prova?
PIAZZI - É óbvio. O processo de impressão e de distribuição disso tem mais vazamento que uma peneira.
PIAZZI - É óbvio. O processo de impressão e de distribuição disso tem mais vazamento que uma peneira.
DIÁRIO - O ensino brasileiro está muito atrasado?
PIAZZI - Em 2003 foi feito um exame envolvendo 41 países. Só ficamos acima da Tunísia. Quer coisa mais absurda do que escola publicar calendário de provas? É o mesmo que estar falando: ‘Para que estudar todo dia? Só na hora da prova você dá uma rachadinha, tira nota e esquece tudo para não abarrotar o cérebro.'
PIAZZI - Em 2003 foi feito um exame envolvendo 41 países. Só ficamos acima da Tunísia. Quer coisa mais absurda do que escola publicar calendário de provas? É o mesmo que estar falando: ‘Para que estudar todo dia? Só na hora da prova você dá uma rachadinha, tira nota e esquece tudo para não abarrotar o cérebro.'
DIÁRIO - A escola incentiva o aluno a tirar nota e não a obter conhecimento?
PIAZZI - Exatamente. E os pais querem que o filho passe de ano, tire nota. Ao invés da nota ser consequência do processo, virou objetivo.
PIAZZI - Exatamente. E os pais querem que o filho passe de ano, tire nota. Ao invés da nota ser consequência do processo, virou objetivo.
DIÁRIO - O que acontecerá com o ensino brasileiro?
PIAZZI - Se continuar essa demagogia que sobrepõem as vontades eleitorais ao processo técnico, acabou. O ensino brasileiro vai ser destruído. Nós já somos um País de analfabetos funcionais; seremos um País de analfabetos reais. Sempre falo que as horas de estudo são mais importantes que as horas de aula. Ninguém incentiva o aluno a estudar. Agora, o Ministério da Educação resolveu mudar o Ensino Médio. O que fizeram? Aumentar as horas-aula ao invés de aumentar as horas de estudo.
PIAZZI - Se continuar essa demagogia que sobrepõem as vontades eleitorais ao processo técnico, acabou. O ensino brasileiro vai ser destruído. Nós já somos um País de analfabetos funcionais; seremos um País de analfabetos reais. Sempre falo que as horas de estudo são mais importantes que as horas de aula. Ninguém incentiva o aluno a estudar. Agora, o Ministério da Educação resolveu mudar o Ensino Médio. O que fizeram? Aumentar as horas-aula ao invés de aumentar as horas de estudo.
DIÁRIO - O que falta para o ensino brasileiro atingir níveis aceitáveis de qualidade?
PIAZZI - Da noite para o dia poderíamos atingir níveis de qualidade fantásticos. Bastava mudar três coisas: primeiro, restaurar a autoridade do professor; depois, criar um mecanismo de não existir uma aula sequer que não tenha uma tarefa a ser executada depois; o terceiro é reformular a técnica de se ensinar Literatura. O Brasil tem milhões de alunos, mas pouquíssimos estudantes. Na hora em que o Ministério da Educação perceber que o único truque é transformar aluno em estudante, vai resolver. Porque aluno é quem assiste aula, estudante é alguém que estuda.
PIAZZI - Da noite para o dia poderíamos atingir níveis de qualidade fantásticos. Bastava mudar três coisas: primeiro, restaurar a autoridade do professor; depois, criar um mecanismo de não existir uma aula sequer que não tenha uma tarefa a ser executada depois; o terceiro é reformular a técnica de se ensinar Literatura. O Brasil tem milhões de alunos, mas pouquíssimos estudantes. Na hora em que o Ministério da Educação perceber que o único truque é transformar aluno em estudante, vai resolver. Porque aluno é quem assiste aula, estudante é alguém que estuda.
DIÁRIO - Por que existem tantas disparidades entre ensinos Fundamental e Médio públicos e a universidade pública?
PIAZZI - As universidades públicas também são ruins. Elas só são melhores do que as particulares porque, como são gratuitas, há seleção na entrada.
PIAZZI - As universidades públicas também são ruins. Elas só são melhores do que as particulares porque, como são gratuitas, há seleção na entrada.
DIÁRIO - O que o senhor aborda em suas palestras?
PIAZZI - Mostro que a componente genética da inteligência é quase irrelevante. Qualquer um que tenha cérebro saudável tem condições de se tornar mais inteligente.
PIAZZI - Mostro que a componente genética da inteligência é quase irrelevante. Qualquer um que tenha cérebro saudável tem condições de se tornar mais inteligente.
DIÁRIO - Como é possível ficar mais inteligente?
PIAZZI - São cinco passos. O primeiro é acreditar que é possível. O segundo é evitar as coisas que fazem abaixar o Q.I. - drogas lícitas e ilícitas e excesso de tecnologia. O terceiro é estudar pouco, mas todo dia, para fixar o que foi visto. O quarto passo é, se tiver um jeito fácil e um difícil, fazer o difícil; o cérebro precisa fazer musculação. E o quinto é ler muito.
PIAZZI - São cinco passos. O primeiro é acreditar que é possível. O segundo é evitar as coisas que fazem abaixar o Q.I. - drogas lícitas e ilícitas e excesso de tecnologia. O terceiro é estudar pouco, mas todo dia, para fixar o que foi visto. O quarto passo é, se tiver um jeito fácil e um difícil, fazer o difícil; o cérebro precisa fazer musculação. E o quinto é ler muito.
DIÁRIO - Por que temos a ideia de que pessoas nascem com determinados talentos?
PIAZZI - A modelagem do cérebro humano começa no útero. Como os reflexos disso são muito precoces, as pessoas têm a sensação de que é genético, quando na realidade é ambiental. No século 19, uma família alemã tinha dois filhos. Um era bem-dotado musicalmente, o outro, uma nulidade musical. O bem-dotado foi para o conservatório, a nulidade foi para a faculdade de Direito. Anos depois, o músico morreu. A vontade da família em ter um músico era tão grande que o que estava fazendo Direito abandonou a faculdade, entrou no conservatório e se tornou um dos maiores compositores, Richard Wagner. As pessoas têm o péssimo hábito de colocar uma etiqueta: ‘sou capaz de fazer isso e não sou capaz de fazer aquilo.'
PIAZZI - A modelagem do cérebro humano começa no útero. Como os reflexos disso são muito precoces, as pessoas têm a sensação de que é genético, quando na realidade é ambiental. No século 19, uma família alemã tinha dois filhos. Um era bem-dotado musicalmente, o outro, uma nulidade musical. O bem-dotado foi para o conservatório, a nulidade foi para a faculdade de Direito. Anos depois, o músico morreu. A vontade da família em ter um músico era tão grande que o que estava fazendo Direito abandonou a faculdade, entrou no conservatório e se tornou um dos maiores compositores, Richard Wagner. As pessoas têm o péssimo hábito de colocar uma etiqueta: ‘sou capaz de fazer isso e não sou capaz de fazer aquilo.'
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