Pais e estudantes acusam escola mais bem avaliada de SP de fraude
Alunos da escola estadual com índice 9,3 - em escala de 0 a 10 - relatam que tiveram ajuda de professoras na prova
A nota da escola estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado no Idesp, índice de qualidade da rede de ensino paulista, impressiona: 9,3 em uma escala de 0 a 10. O desempenho da unidade localizada em um pequeno distrito de Sorocaba ultrapassa o dobro da média das turmas do 5º ano do ensino fundamental de São Paulo, 4,24. Uma simples visita à vizinhança, no entanto, foi suficiente para o iGdescobrir algo errado nessa conta. Quatro dos vinte e sete estudantes que fizeram o Saresp, prova de português e matemática que compõem o Idesp, relataram que tiveram ajuda dos professores durante a avaliação - docentes que têm o bônus condicionado ao Idesp da escola.
Foto: Marina Morena Costa/iG
Escola Reverendo Augusto da Silva Dourado com a maior nota no Idesp no Estado de São Paulo: 9,3
“Quando a resposta estava errada, a professora mostrava o erro. Às vezes ela dava a resposta, ou falava para a gente reler o texto com mais atenção”, relata H.L.S.S., de 10 anos, que se formou na escola no ano passado e fez parte da turma bem avaliada no Saresp. De acordo com o boletim da escola, todos os estudantes tiraram a nota máxima em matemática e 81% tiveram desempenho avançado em português.
“
Minha filha teve bastante dificuldade na escola nova e até faz reforço. Se o ensino fosse bom, ela não precisaria"
Alessandra da Silva, mãe de aluna com nota 10
Alessandra da Silva, mãe de aluna com nota 10
Alessandra Vidal da Silva, de 32 anos, mãe de Sabrina, de 12 anos, formada em 2011, diz que estudantes que faltaram no dia de aplicação do Saresp tiveram a prova feita por professores. “Minha filha teve bastante dificuldade na escola nova (6º ano do ensino fundamental) e até faz reforço. Se o ensino fosse bom, ela não precisaria disso, né?”, questiona a dona de casa.
Colegas de Sabrina na turma de 2011 confirmam as suspeitas de fraude. “Tinha algumas perguntas que eu não sabia responder, mas a professora confirmou”, conta L.A.S.R, de 12 anos. L.H.S. de 13 anos, que repetiu dois anos, diz que as dúvidas dos alunos eram respondidas durante a prova.
Cercada por ruas de terra e casas de madeira e alvenaria, a escola estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado está localizada em um distrito industrial de Sorocaba, cidade a 100 km de São Paulo. Com cerca de 70 alunos e apenas as cinco primeiras séries do ensino fundamental, lembra a realidade de outras escolas campeãs no Saresp: poucos alunos por sala de aula (média de 14) e proximidade com os pais de alunos. Em 2010, a escola teve Idesp 6,07. No ano seguinte, saltou para o topo – a segunda maior nota obtida foi 8,95, em Araras, e a primeira da capital 7,43. Já no Índice Nacional da Educação Básica, do Ministério da Educação, seu desempenho ficou abaixo da média estadual e do município, em 4,5.
Foto: Marina Morena Costa/iG
Bairro de ocupação em que fica a escola que, segundo alunos, fraudou Idesp
Grande parte dos alunos é moradora do Jardim Iporanga 2, uma área ocupada vizinha à escola que está em processo de legalização com a prefeitura. Na comunidade, todos comentam sobre a ajuda extra que os estudantes supostamente tiveram no Saresp. “As crianças chegaram falando que a professora deu um monte de respostas. Teve um que só escreveu o nome e ela fez a prova”, conta Josilene Neide dos Santos, de 24 anos, mãe de uma aluna da educação infantil, que funciona no mesmo prédio da Reverendo Augusto da Silva Dourado.
Secretaria diz que pedirá esclarecimentos à Fundação Vunesp
A Secretaria de Educação de São Paulo, avisada pelo iG dos depoimentos, afirma que a denúncia não procede, pois, de acordo com seus registros, professores de outras escolas aplicaram o Saresp na Reverendo Augusto da Silva Dourado. Apesar das denúncias dos estudantes e dos pais, a pasta não abrirá sindicância agora porque disse que vai pedir, primeiramente, esclarecimentos à Fundação Vunesp.
Ainda de acordo com a Secretaria, “para a realização da avaliação é contratada uma empresa terceirizada que elabora e fiscaliza a realização do exame, com fiscais presentes em sala de aula. Além disso, dois pais voluntários participaram da fiscalização, circulando pela unidade, e não relataram nenhuma irregularidade”.
Veja a nota da Secretaria na íntegra:
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo esclarece que não instaurou apuração preliminar para averiguar a veracidade das denúncias apresentadas pela reportagem, pois de imediato solicitará à Fundação Vunesp, responsável pela aplicação do Saresp, um relatório sobre as circunstâncias da prova realizada na Escola Estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado, em Sorocaba. Com base nos esclarecimentos prestados, a Pasta decidirá quais providências serão tomadas.
De antemão, cabe elucidar, no entanto, que o exame não foi aplicado por professoras da própria escola, como questionou o portal, mas sim por um docente de outra unidade.
A Secretaria ressalta ainda que, para garantir a idoneidade do Saresp, as provas do 5º ano são aplicadas por professores de turmas ou escolas diferentes. Para a realização da avaliação é contratada uma empresa terceirizada que elabora e fiscaliza a realização do exame, com fiscais presentes em sala de aula. Além disso, dois pais voluntários participaram da fiscalização, circulando pela referida unidade de ensino, e não relataram nenhuma irregularidade.
De antemão, cabe elucidar, no entanto, que o exame não foi aplicado por professoras da própria escola, como questionou o portal, mas sim por um docente de outra unidade.
A Secretaria ressalta ainda que, para garantir a idoneidade do Saresp, as provas do 5º ano são aplicadas por professores de turmas ou escolas diferentes. Para a realização da avaliação é contratada uma empresa terceirizada que elabora e fiscaliza a realização do exame, com fiscais presentes em sala de aula. Além disso, dois pais voluntários participaram da fiscalização, circulando pela referida unidade de ensino, e não relataram nenhuma irregularidade.
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