sábado, 25 de agosto de 2012

De castigo e sem recreio


De castigo e sem recreio

Outro dia, me perguntaram por que eu falava tanto de educação. Ao que respondi: “Não sei, se você tivesse educação, saberia”. Com isso, acabei faltando com a educação e comprovando a minha tese.
Clique para ampliar.Corre no Facebook, com mais de 12 mil compartilhamentos, uma mensagem com a foto do governador Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo. Diz, dessa maneira: “Olhem a pérola que o Sr. Governador disse: ‘Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado’”.
Motivo de revolta dos educadores e de alguns alunos de escolas públicas (digo alguns, porque a maioria dos alunos – que deve ser de adolescentes – odeia a escola, o professor, a mãe, o pai, o universo e a tia que aperta as bochechas), claro.
A campanha, iniciada por Edu Passeau, sugere a Alckmin que doe seu salário e governe por amor. Entre os comentários do post, um é destacado: “Temos o governador que elegemos. O erro não é dele e a mentalidade medíocre não vai mudar porque ficamos indignados. O erro é nosso na hora do voto e ficamos indignados com as m***** [a saber, “merdas”] que ele fala”.
Há toda uma dramática execração. Coitado do governador paulista, porque com essa história de que praga no final do ano pega…
O que o Passeau não sabe – ou sabe, mas se faz de bobo – é que a frase foi sim dita pelo “senhor governador”. Sim, claro. Mas pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). O que não significa que o pensamento de Alckmin (todos, eu inclusive, como aluno de escola estadual que fui, conhecemos os problemas e as vergonhas do sistema) seja diferente, mas a questão que abordamos aqui é a de atribuição de uma frase a uma pessoa que sequer se importa em falar mal ou bem.
A frase compartilhada por revoltados professores também não é confiável, pois há uma boa edição. A íntegra da fala de Gomes é: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado, eles pagam mais? Não. O corporativismo é uma praga no meu ponto de vista”. O governador cearense disse isso numa época de greve (“Greve só prejudica o aluno.”), num evento lotado por docentes.
Se esse tal cara que iniciou a “corrente” (ele foi contatado, se responder, este texto será atualizado) for um professor, devemos avaliá-lo como ruim, já que está passando informação errada para milhares de pessoas. É possível mostrá-lo – e também os que divulgaram a “pérola” – como regularmente alienado do cotidiano.
Claro que não podemos livrar de críticas os governos tucanos, que há muitos anos se dedicam a uma coisa que meus professores chamavam de “plano antieducação”.
Podemos chamar o que aconteceu no Facebook de efeito Clarice Lispector, ou efeito Caio Fernando Abreu, ou efeito Arnaldo Jabor: até frases de Shakespeare são atribuídas a eles.
E aí, meu caro, como fica a qualidade deste tipo de educação? Para o canto, de castigo e sem recreio!

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